Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro se aproximam. Serão 42 esportes disputados entre os dias 5 e 21 de agosto. Desses, dois são novidades em relação às Olimpíadas de Londres: o golfe e o rugby Seven, que retorna à competição depois de 92 anos.

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Para saber um pouco mais sobre o cenário do rugby no Brasil, o Linha Esportiva conversou com Antonio Martoni, ex-jogador da seleção brasileira e atualmente comentarista da modalidade nos canais ESPN. Ele nos falou sobre seu trabalho no canal, a expectativa de desempenho das seleções brasileira masculina e feminina no Rio de Janeiro e os investimentos que foram feitos no rugby brasileiro.

 

Linha: Desde quando você está comentando na ESPN? Quais os eventos mais marcantes que cobriu na emissora durante esse tempo em que está comentando?

Martoni: Desde 2003. Iniciei junto com a casa as transmissões de rugby na Copa do Mundo da Austrália. O começo foi muito difícil em termos de audiência, mas a ESPN sempre acreditou em mim e principalmente no rugby. São muitos anos cobrindo competições importantes. A Copa do Mundo de 2007 foi especial, pois pela primeira vez transmitimos quase todos os jogos ao vivo. Por ter sido na França os horários eram excelentes e o rugby mudou de patamar dentro da emissora e também no Brasil de forma geral. Inegável que alguns jogos in loco são inesquecíveis, como o sul-americano de rugby (primeira transmissão in loco), em 2004, em São Paulo. Também a final do Europeu de Rugby em Cardiff, no País de Gales (que marca a primeira transmissão in loco da TV brasileira).  Depois cobri ano passado in loco também a Copa do Mundo da Inglaterra, transmitindo vários jogos direto dos estádios, em especial a abertura, com Inglaterra x Fiji, e a espetacular final com All Blacks (Nova Zelândia) x Wallabies (Austrália).

 

Linha: Em sua opinião as seleções masculina e feminina de rugby Seven têm alguma chance de vencer jogos e conseguir bons resultados nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro ou a tendência é de que percam todas as partidas?

Martoni: A seleção feminina brasileira está entre as dez melhores do mundo e, portanto, se tiver um dia perfeito e suas rivais não estiverem bem pode eventualmente tentar brigar por alguma medalha. Se for pelo normal um quinto ou sexto lugar estará ótimo. No masculino é mais complicado, o Brasil tem colhido alguns bons resultados e no Seven tudo pode acontecer, mas a princípio brigando por uma posição intermediária  já será um feito.

 

Linha: Quais as equipes favoritas para ganharem medalhas no masculino? E no feminino?

Martoni: no masculino Fiji, África do Sul, All Blacks (Nova Zelândia) e Austrália. Por fora correm Estados Unidos, Argentina, Quênia. Já no feminino Austrália, All Blacks (Nova Zelândia), Canadá e Estados Unidos.

 

Linha: Foi feito algum investimento nos últimos anos na esfera pública ou privada para difundir a prática de rugby no Brasil?

Martoni: Com o retorno aos Jogos Olímpicos o rugby brasileiro ganhou impulso financeiro importante para suas seleções, através do Ministério do Esporte e Comitê Olímpico Brasileiro, além de boa vontade de empresas privadas em patrocinar seleções que vão aos Jogos Olímpicos. No âmbito de clubes, a Lei de Incentivo ao Esporte do Ministério do Esporte tem ajudado muitos clubes. Patrocínio é mais complicado em clubes, pois os campeonatos são pouco atrativos e praticamente sem transmissão em televisão.

 

Linha: O que falta para que o rugby se popularize no Brasil e ganhe mais adeptos?

Martoni: A popularização caminha bem. Muita transmissão televisiva ajuda a criar um publico cativo. As TVs a cabo, em particular a ESPN, que exibe perto de 180 jogos de rugby ao ano, e tem os principais eventos internacionais. Também o Bandsports, com o Seven a side, e o SPORTV, com alguns jogos nacionais, ajudam nesse processo. A entrada da RedeTV pode impulsionar e popularizar o esporte.

 

Linha: Você acha que a presença do rugby nas Olimpíadas pode ajudar a divulgar e popularizar esse esporte no Brasil?

Martoni: Sem dúvida, embora a cultura de resultados (o que não é o caso atual do nosso rugby) pode ao mesmo tempo ser um desestimulante para quem não conhece o esporte. De qualquer maneira é sempre valido.

 

Linha: Você vê perspectivas para que, em um futuro próximo, as seleções brasileiras de rugby Seven possam competir em melhores condições e bater de frente com as equipes mais fortes?

Martoni: Sem dúvidas. Quando o Brasil for buscar os jogadores mais talhados ao Seven a side não tenho dúvidas. O elenco atual é bom, mas é fundamental cuidar da base. Jogadores oriundos de outros estados, especialmente do norte/nordeste, que são conhecidos pela velocidade, podem dar um futuro promissor.

 

Linha: E no rugby Union existe alguma perspectiva de evolução e melhor rendimento?

Martoni: No rugby de XV é uma situação diferente. Acredito em no mínimo duas gerações para atingir um nível mais próximo competitivo para estar numa Copa do Mundo. Não que o Brasil não possa chegar antes, mas para disputar com condições de vitórias são necessários muitos aspectos que ainda estamos longe. Clubes fortes e profissionais, disputando torneios nacionais e internacionais, categorias de base com muito mais jogadores, apoio da Confederação e Federações aos clubes (atualmente os clubes pagam caro para poder jogar e quase não recebem apoio, ao contrario) através de campeonatos patrocinados, visibilidade televisiva, prêmios para participantes. Enfim, o inverso do que temos hoje.

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