29 de novembro de 1998. Um garoto franzino com a camisa 28 fazia a sua estreia pelo Liverpool Football Club, em partida contra o Blackburn. Sua participação não foi muito destacada, mas , aos poucos, ele foi entrando no time titular. Ali, ninguém esperava que estariam observando a maior lenda da história do LFC.

Vagarosamente, o garoto começou a chamar a atenção com seus passes perfeitos e um jogo de box-to-box impressionante. Um ano depois de sua estreia, o primeiro gol. E em grande estilo, deixando dois marcadores no chão – algo pouco característico para o jogador. Naquele momento, o garoto deixou de ser menino, passou a ser homem e se apresentou para o mundo da bola: “Prazer, eu sou Steven George Gerrard”. A história de um mito estava sendo escrita.

Um meia habilidoso e um volante com marcação implacável no mesmo jogador. Era difícil achar um ponto fraco em Gerrard. Logo, já vestia a camisa da seleção inglesa. Então, ele foi colecionando títulos. Copa da Uefa, Copa da Liga Inglesa, FA Cup e, principalmente, a épica Champions League de 2005, sendo o único na história a marcar gols nas finais de todas essas competições. Faltou apenas a conquista da Premier League, mas os deuses do futebol, em uma de suas ações mais cruéis, fizeram o Captain Fantastic deslizar na grama quando não deveria. Uma pena – para o futebol.

Gerrard com o troféu de campeão da Champions League de 2005

Gerrard com o troféu de campeão da Champions League de 2005

Como se os títulos não bastassem, a identificação com o Liverpool foi e ainda é enorme. Gerrard nasceu no clube e dedicou 27 dos seus 36 anos de idade para o LFC, sendo 17 deles como jogador profissional, fazendo 710 jogos, marcando 186 gols e conquistando 10 títulos. Perdeu um primo na tragédia de Hillsborough, a maior do futebol inglês,e  foi uma das vozes mais ativas no pedido de “justiça pelos 96” mortos no desastre (leia mais sobre Hillsborough AQUI). Recusou propostas de times mais ricos, com mais chances de títulos na carreira e ficou no Liverpool até nas fases mais difíceis, jogando ao lado de Kyrgiakos, Dossena, Konchesky, Andy Carroll e outras pérolas de jogadores contratados pela diretoria red. Stevie G não queria dinheiro nem fama, mas sim fazer de seu Liverpool um time vencedor. O torcedor via em Gerrard a sua imagem e semelhança em campo, com toda a entrega que o capitão deixava dentro das quatro linhas, e as atitudes de amor e carinho ao clube fora dele.

Apenas deixou o Liverpool quando não havia mais espaço para ele e uma renovação se fazia necessária. Afinal, deixar o maior ídolo da história do clube mais no banco do que em campo não era uma boa ideia. Foi para o Los Angeles Galaxy, onde fez bonito papel também, com 38 jogos e 5 gols, além de duas participações em play-offs.

Infelizmente para os fãs de futebol, chega uma hora em que o corpo do jogador fica muito desgastado. E para um jogador competitivo como Gerrard, esse foi o momento de parar. “Nos últimos 3 ou 4 meses, no Galaxy, comecei a me lesionar muito. Os jogos se tornavam mais complicados. A altitude, o calor atrapalhavam. Tive alguns momentos, nos últimos meses, que pensei ‘Não joguei bem hoje, aquele cara foi melhor do que eu’. E eu não gosto de pensar assim”, disse ele. Um adeus que dá nostalgia e nos faz lembrar de como o meio campista jogava.

O filme “Will – Em Busca de um Sonho”, fez  melhor descrição possível de Steven Gerrard, comparando-o a uma supernova. Supernova é, em sua versão literal, um evento astronômico que ocorre durante os estágios finais da evolução de algumas estrelas, que é caracterizado por uma explosão muito brilhante. Gerrard, portanto, seria a supernova do futebol.

“Ele se move como um tornado em chamas, girando para todas as direções ao mesmo tempo e sempre com os olhos voltados para o gol. A bola é a lua e ele é a Terra. Tudo que ele deseja em campo, suas pernas fazem acontecer”, descreve o filme.

Como o evento original, que ocorre apenas três vezes por milênio, não veremos outros Stevie Gs por aí. Ele é único. Só podemos agradecer em ter conseguido assisti-lo desfilar seu futebol durante esses anos. Obrigado, Steven George Gerrard. Você vai fazer falta, lenda.

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