O futebol holandês atravessa uma de suas piores fases na história. Sua Seleção Nacional não conseguiu a classificação para a Eurocopa de 2016 e também não conseguiria a vaga para a Copa do Mundo do ano que vem se as Eliminatórias terminassem hoje. Some o fato de que a Eredivisie, liga de futebol holandesa, está em decadência, sem tanta competitividade e servindo apenas para exportar suas promessas para ligas maiores e mais ricas. Pronto, temos uma crise instaurada.

Hoje, porém, tudo isso foi esquecido, graças ao gigante Ajax. Os Ajacieden deram um show diante do Lyon, em partida válida pelas semi-finais da Liga Europa, na Amsterdam Arena (que passará a se chamar Johan Cruyff Arena a partir da temporada que vem). O placar de 4 a 1 ficou até barato para os franceses frente à tamanha superioridade holandesa, que possui uma equipe extremamente jovem, talentosa e promissora. Para se ter uma ideia, o time que iniciou a partida de hoje tinha uma média de 22,6 anos. O que encerrou, de 20,3 anos. Cruyff ficaria orgulhoso.

Quando a partida começou, no entanto, o Lyon dava mostras de que sairia à frente no confronto. Mesmo com o artilheiro Lacazette no banco, recuperado parcialmente de uma lesão, Cornet, Fekir e Valbuena bagunçavam a defesa do Ajax e davam trabalho ao goleiro Onana, de 21 anos. Os holandeses, então, abusaram da efetividade: na primeira oportunidade, em uma falta na direita, Ziyech, 24 anos, colocou na cabeça de Bertrand Traoré, de 21. O atacante, que ainda pertence ao Chelsea, não desperdiçou e fez a Arena em Amsterdã pulsar. O jogo ficou equilibrado a partir do gol, até a segunda chance aparecer para o Ajax. Após saída de jogo ruim do goleiro Lopes, Traoré ganhou a disputa de cabeça e acabou dando uma assistência para Dolberg, de 19 anos, marcar o segundo dos Ajacieden. A festa nas arquibancadas ainda seria maior no primeiro tempo se Younes, de 23 anos, fizesse o terceiro gol. Cara a cara, melhor para o goleiro português do Lyon.

Na volta para o segundo tempo, o ritmo do Ajax, que já era bom ao final do primeiro tempo, aumentou. ficou frenético, lembrou o “Futebol Total” praticado pelo Carrossel Holandês na Copa de 1974. Ataque atrás de ataque, blitz ofensiva a todo momento. Em três minutos de bola rolando na segunda etapa, Klaassen, 24 anos, roubou a bola no campo ofensivo e serviu Younes. O atacante alemão, dessa vez, não fez feio: cortou o marcador e bateu mascado, mas o suficiente para vencer o goleiro Lopes. Três a zero, fora o baile. E cabia mais, de novo com Younes e Ziyech, que desperdiçaram incríveis chances, dando a oportunidade do Lyon se reerguer na partida. Valbuena diminuiu no melhor momento do Ajax no jogo até então e Fekir quase fez o segundo logo depois, exigindo boa defesa de Onana. Susto e apreensão em Amsterdã.

Mas logo depois, em mais um cochilo francês, Ziyech recebeu de Klaassen e cruzou na medida para Traoré fazer o quarto. E o show voltou a acontecer. Com Justin Kluivert, de 17 anos (e filho de Patrick Kluivert, ex-atacante do Barcelona e da Seleção holandesa), Van de Beek, de 20 anos e David Neres, também de 20 anos, entrando em campo, o Ajax dominou as ações no último quarto de partida e poderia ter definido ainda mais o confronto. Menção honrosa também para a monstruosa partida do zagueiro De Ligt, de apenas 17 anos, sólido defensivamente e que ainda deu uma assistência para Ziyech marcar. O marroquino, no entanto, desperdiçou a oportunidade, graças ao goleiro do Lyon. Anthony Lopes fez ao menos seis ótimas intervenções e evitou um vexame francês na Holanda.

Agora, os holandeses podem perder por até dois gols de diferença na França que conseguirão a vaga para a final. Aos franceses, de ótima campanha, resta a esperança de conseguir o improvável e a dura missão de segurar um ataque que foi imparável na partida de hoje.

O renascimento do Ajax no cenário europeu, com uma equipe muito jovem e extremamente promissora, é algo lindo de assistir, ainda mais por ser algo improvável no contexto atual do futebol holandês. Os Ajacieden estão de volta ao lugar que merecem estar, onde sua tradição o coloca. O futebol agradece.

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