Nunca se incia um artigo com uma citação sem propósito. Fosse Chacrinha, o velho guerreiro, o autor, diria (quase) assim: eu quero mesmo é confundir. Talvez encarnado pelo espírito bagunceiro do global e certamente inspirado na alma mexicana, Juan Carlos Osório, o profe, decidiu que era dia de subverter ordens e propor um bom combate. Era de se imaginar que as coisas começassem em uma temperatura amena. Samara, quente por natureza, viu os brasileiros tomarem um calor digno de UFC.

O México falou como se fosse Connor McGregor, um irlandês canastrão que sempre preferiu bater com as palavras, agredir no pré, o rei da pressão. A terra mundial da luta seguiu o pior dos exemplos e exagerou no tom. Provocou, ofendeu, sinalizou que faria mais do que sua capacidade real apontava. Faz parte. É como um seriado que tenta fazer rir. Muitas vezes, fica só na proposta.

Na prática, eles não negaram fogo. Primeiro tempo duríssimo para a seleção brasileira. Abusado, o México logo deixou as amarras para trás e sufucou o time de Tite com um modelo que visava primordialmente pressionar as laterais de Fagner e Filipe Luis e com isso, impedir a amplitude do time com Neymar e Willian. Foi uma equipe encaixotada que não soube escapar e emplacar um contragolpe nos primeiros 23 minutos de luta. Foi clich, mas com umas porradinhas que doeram na canarinho.

Sempre há a necessidade de um momento que mude rumos, que desalinhe o que está acontecendo. Fosse no Chaves, seria aquele momento no barril. Foi pra onde a moral dos adversários foi depois que Neymar driblou dois defensores e finalizou para bela defesa do ótimo Ochoa. Uma escapada nos estudos e dois segundos de trocação, uma mão que encontra o queixo, um rival que balança e no balanço de uma reflexão entende que balancear é preciso. Quem tem, tem medo.

Desde o golpe, o México sofreu uma imobilização natural. Como quem conta uma piada e ninguém devolve o riso. O efeito aspiral do silêncio. O inegável de receio que a partir da segunda etapa, fez da equipe de Osório, alguém muito disposto a ir às cordas, mas não antes de dar socos e pontapés desordenados. Não é permito em lutas, não é perdoado em campos de futebol. Em belíssima jogada de Willian, o foguetinho, que fez uma segunda etapa esplendorosa, Neymar anotou o gol que tem tantos significados que não cabem em uma crônica de poucas referências.

“Respondam no campo”, eles disseram. Com gols, nós respondemos. Não foi só, foi a conquista daquele que foi mais massacrado do que o saudoso morador do barril. Que chorou tanto quanto Kiko. Que comemorou muito mais que Connors. Não o bastante, ainda foi tempo de empilharmos alguns bons momentos contra um rival que esperneava e agredia, que tropeçava na própria falta de soluções. Que não se conformava com o quanto absurdo de futebol o enorme Thiago Silva jogava. Sentia que escapar daquele golpe era uma tarefa de três tapinhas.

Tapinhas que Neymar deu na bola que recebeu de Fernandinho e conduziu até Firmino, o homem cujo sorriso brilha mais que o país inteiro de nossos rivais, para o fundo das redes do segundo gol brasileiro. Faltou ar, sobrou o pedido de arrego. Era mais um dia em que quem falou, não foi capaz de cumprir. Nada tão mexicano. Arriba, não. Sempre abajo.

Abajo, Juan Carlos Osório que em coletiva pós jogo não teve a capacidade das artes marciais de reconhecer o oponente. Abajo o país que se precipitou em taxar o craque como fracasso. Abajo a uma seleção que falou demais. Abajo a quem não gosta de futebol, de luta ou de Chaves.

Arriba, Brasil!

Comentários

comentário