Iniciava-se a década de 70. O Brasil vivia seus anos de chumbo. Emílio Médici, representante da ARENA, governava o país e tentava criar um clima de euforia de consumo e de nacionalismo ufanista que mascarasse as recorrentes torturas e prisões arbitrárias. Direitos políticos? Apenas em eleições municipais. O maior direito era o de ficar calado para não sofrer retaliações. Nesse contexto, o futebol era mais uma arma de manipulação do governo, que o utilizava para criar um clima de otimismo raramente visto em terras tupiniquins.

Nesse ano, a PANINI lançava o primeiro álbum de figurinhas da Copa do Mundo do México. E se hoje toda criança brasileira quer tirar as figurinhas de Neymar e Philippe Coutinho, certamente ficariam ainda mais empolgados com Pelé, Tostão, Rivelino e Jairzinho, dos quais Neymar e companhia poderiam tranquilamente limpar as chuteiras.

Saudosistas como eu gostaríamos de ter tido um álbum com Gordon Banks, Franz Beckembauer, Ladislao Mazurkiewicz, Bobby Moore e Gerd Muller. Outros menos famosos, como Pedro Rocha, Teófilo Cubillas ou o inesquecível capitão Carlos Alberto Torres também marcaram sua história nas figurinhas da Copa de 1970. E mesmo que hoje seja divertido achar as figurinhas de Manuel Neuer, Robert Lewandowsky, Paul Pogbá, Luis Suárez e Edinson Cavani, a dúvida sempre ficará: os craques de agora são mais craques ou simplesmente tem mais repercussão mundial por conta da mídia esportiva e do alcance das transmissões?

Entre os gigantes, uma ausência e uma entrada em relação ao primeiro álbum. Itália, brilhante vice-campeã no México, não estará em 2018. O Cálcio perdeu parte do seu brilho e a Azzurra foi se desbotando paulatinamente até a hecatombe completa: a eliminação para a Suécia. Mas se a Itália não está, teremos Argentina! Os Hermanos, paradoxalmente odiados e amados, terão na Rússia a figurinha que todos querem: Lionel Messi e uma das suas últimas chances de brilhar numa Copa do Mundo. E se alguém quer trocar a figurinha do Messi pela do Cristiano Ronaldo, por favor, me dê as duas, não precisa odiar um para gostar do outro.

E sobre as figurinhas políticas do Brasil? Bem, essas infelizmente nunca foram trocadas. Só trocaram quem morre, mas continuam mentindo sobre as causas.

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