Como se fosse a tarefa de dizer, ao vivo, quem será o próximo vencedor daquele reality show de talentos que chegam na reta final disputando os milhões de reais e cinco minutos de som ouvido pelo mundo. Quase impossível apontar qual deles será o dono da glória.

De um lado, aquele que sabemos ser o melhor. Mais técnico, mais afinado, com mais história e tempo de uso de seus talentos. Ainda assim, chega na final depois de uma trajetória complicada, que superou os trupicões através do tamanho que tem sua história.

No canto esquerdo, envergonhado por estar ali, mas com sorriso disfarçadamente satisfeito, o jovem. Mal sabe como chegou, mas se orgulha pela forma como foi. Vem de cidade pequena, de talento puro e sem ser lapidado. Inspiração pura, mas com um apoio irrestrito de seu povo, pequeno em tamanho, enorme de coração. Intenso em um nível insuperável.

Experiente, experimentado e cheio de expectativa. O mais sereno dos finalistas, já um senhor de meia idade, apesar de jovial cronologicamente, que vive o melhor ano de sua carreira. Todas as suas capacidades estavam em desenvolvimento perfeito. Traz consigo expoentes pra todas as necessidades. Passou por problemas passados, mas chega nesse ponto com a confiança que jamais viu sob suas mãos.

Por fim, um guerreiro. De pouca expectativa para vencer, mas que honra sua regularidade. Batalha em todos os momentos, supera sua vida de dificuldades para buscar aproveitar cada momento. É mais esforço do que inspiração, mas é força, garra e muita fé na sua raiz de pouca expressão. Tem mais do que talento, parece ter uma fé inabalável.

Como se fosse um apresentador, me cabe a tarefa de dizer, na ordem, que Argentina, Islândia, Croácia e Nigéria chegam à final, ao grupo D da Copa do Mundo da Rússia. Cada qual com seu perfil, fazem um dueto de quatro tenores que buscam seus sucessos, ainda que com perspectivas distintas, mas que representam glória.

Argentina vem de um trajetória dolorida nas eliminatórias, de quase eliminado a um dos óbvios favoritos ao troféu. Elenco enorme em nomes, jogadores com tarefas muitíssimo bem cumpridas em seus clubes e com o violino de Lionel Messi para afinar um musical com carinha de happy end.

A Islândia. Ah, a Islândia. Toca bateria com tambores de lixo, toca guitarra com palheta de papelão, faz música com a alma, ainda que faltem instrumentos. Vem de campanha sólida nas eliminatórias, com um time dedicado, de um ases de destaque no meio campo, a fera Sigurðsson, do Éverton. Sem quaisquer obrigações, vem pra ser a alegria. A torcida e o grito de guerra mais musical do mundo.

A Croácia vem de terno. Cantando opera. Time de craques. Modric, Perisic, Raktic. Citando três porque, como música, menos é mais. Chega à Copa com experiência e com seus nomes vivendo auges nos clubes. Tem tudo, tudo mesmo, pra ser um dos mais afinados times deste mundial. Chega com status. E muita, mas muito bola. Holofote neles, produção.

Por fim, o esforço. O legado. A preocupação maior dos nigerianos é quanto à forma dos seus principais destaques. Musa e Iheanacho não empolgam no Leicester. Para dar trabalho no grupo, precisam de ritmo de jogo dos jogadores, que ainda praticam o futebol africano em sua essência: muito vigor físico e apostas na velocidade de seus pontas e atacantes. Sem a batuta de seu mestre John Obi Mikel, a tarefa se complica, mas se justifica. Será mais um dos inúmeros dias de luta para um país de glórias ao sobreviver.

Seria essa a hora do discurso, aquele que precede um nome. Poderia dizer maravilhas sobre todos, apontar o mote que decidiu, mas aqui é futebol. Ele não imita a arte, ele a inspira. A Copa é o auge. Estar lá, uma honra. Vencer, uma façanha. Prever algo, numerologia. A gente, no máximo, confabula e exalta o torneio. Com cara de grupo da morte, esse é o D. De Copa.

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