Ah, como a NFL é cíclica e como o destino é irônico. Em um espaço de 13 anos, entre 1981 e 1994, o San Francisco 49ers se tornou um dos maiores campeões da era Super Bowl. Foi a era de ouro dos Niners, quando a dupla de QBs Joe Montana e Steve Young trouxe 5 títulos para a franquia. O 49ers venceu 4 sob comando de Montana e, quando esse parou, não perdeu em nada com a entrada de Steve Young. Foram dois dos maiores da história e uma das maiores sucessões de QBs que já se viu. Ninguém jamais usará novamente as camisas 16 e 8 em San Francisco. Assim como ninguém usará a camisa 12 em Green Bay depois de Aaron Rodgers.

Coincidência ou não, Steve Young ficou três anos na reserva de Joe Montana: o mesmo tempo que Aaron Rodgers assistiu sentado Brett Favre (outro que teve a camisa aposentada em GB). Rodgers poderia ser mais uma das lendas de SF, mas no draft de 2005, quando os Niners tiveram a primeira escolha geral e precisavam de um QB, a aposta foi em Alex Smith (hoje no KC Chiefs). Os Packers agradeceram e selecionaram Rodgers na 24ª escolha da primeira rodada, já pensando na sucessão do lendário Favre.

No entanto, essa sucessão de QBs geniais do Packers não foi tão gloriosa quanto a dos Niners. Pelo menos ainda não. Favre, apesar dos inúmeros recordes individuais, conquistou apenas um título. Rodgers mais um. No entanto, o GB tem sido presença mais do que constante nos playoffs. Nos últimos 23 anos, durante a era Favre-Rodgers, o Green Bay ficou fora dos playoffs apenas 5 vezes. Desde que se tornou titular, Rodgers só esteve fora dos playoffs em seu primeiro ano.

QBs com precisão no passe e força no braço nós conhecemos vários: Manning, Brady e Big Ben, para citar apenas os mais bem-sucedidos dos últimos tempos. Mas não é apenas isso. Rodgers tem uma combinação única na NFL. Ele tem a precisão de um Brady, aliada a mobilidade de um Russel Wilson e a força de um Collin Kaepernick. Não à toa, seu mais novo apelido é Mr. Hail Mary. Nos últimos 13 meses, Rodgers anotou 3 touchdowns com a jogada mais improvável da liga. Contra o Lions na temporada regular (apelidado de Miracle in Motown) e duas vezes nos playoffs: contra Arizona para levar o jogo para prorrogação e nos últimos segundos do primeiro tempo contra o NY Giants.

E como não falar da arte das free plays? Aaron Rodgers é mestre nesse tipo de jogada. Ele consegue reconhecer quando a defesa está substituindo, ou alinhada de forma não permitida, ou simplesmente quando vai haver um offside. Rodgers sabe de tudo. Ele pede o snap rapidamente e a jogada já se inicia com falta da defesa. Nesse cenário, o QB é livre para errar lançando em profundidade. Rodgers não costuma cometer erros.

Em uma liga tão cíclica quanto a NFL, o Green Bay Packers está vivendo uma era de ouro e comprovando a importância de se planejar a substituição da peça mais importante de toda franquia. Deu certo com o 49ers; deu certo com o Packers.

Em playoffs, mesmo com apenas um título, Rodgers tem 33 TDs e 9 INTs, em 8 aparições. Big Ben, que já esteve em 3 SB e tem dois anéis, tem 24 TDs e 22 INTs em 9 aparições. Mesmo Peyton Manning, que já esteve em 4 SB com dois anéis, tem apenas 40 TDs e 25 INTs em 15 aparições.

Aos 33 anos, em sua 12ª temporada na liga e com tantas aparições em playoffs, Mr. Aaron Rodgers tem grandes chances de conseguir ao menos mais um anel e se juntar a uma galeria seleta de QBs. Uma galeria seletíssima, o Hall da Fama e a camisa aposentada: é aí que Aaron Rodgers merece estar.

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