Ouvi essa pergunta, certa vez, feita pelo grande Marco Aurélio Souza, repórter do Globo Esporte, em seu módulo de telejornalismo no meu curso de pós-graduação. A questão foi feita logo após um aluno ter-lhe perguntado qual era o seu time de coração, e desde então isso ficou martelando na minha cabeça.

E você, sabe qual é o time do seu dentista? E se ele torcer pelo seu rival, terá algum problema? Você reconhece o desempenho de um dentista pelo seu trabalho ou pelo clube que ele torce? É o mesmo que acontece com os jornalistas que trabalham com o futebol.

Faço essa analogia para falar um pouco mais sobre esse assunto que carrega tantos tabus na imprensa esportiva. Sempre vemos matérias do tipo “saiba pra qual time torce o narrador X”, ou “conheça o time de 100 jornalistas brasileiros”, e o povo vai feito urubu na carniça atrás dessas ‘relevantes’ informações.

Diversos profissionais da mídia têm certo receio de expressarem seus times de coração, por medo de represálias e até agressões em estádios, ou por achar que perderiam credibilidade e audiência caso revelassem para qual clube torcem.

Uma coisa é certa: todo jornalista possui um time de coração, e foi justamente a paixão por esse time que desencadeou a vontade de exercer essa profissão. Trabalhar muito, ganhar pouco, mas acima de tudo fazer o que ama. Transmitir o amor e levar ao torcedor informações e histórias sobre o seu clube, ser o elo mais próximo entre time e torcida.

Jornalistas como PVC, Mauro Beting, Arnaldo Ribeiro, Mauro Cézar Pereira e tantos outros, já declararam o time que torcem. Isso os faz perder credibilidade ou não serem aceitos por tal torcida? Respondendo por mim, claramente não. Muito pelo contrário, admiro demais a sabedoria com que cada um demonstra para falar sobre todos os clubes.

Você pode concordar ou não com certas opiniões, mas achar que jornalista trabalha para prejudicar tal clube é injusto, covarde, e até um pouco paranoico.  Muitas vezes o torcedor só quer ouvir aquilo que ele deseja escutar, e essa cegueira acaba colocando a paixão na frente da verdade.

Possuo grandes amigos que trabalham como setoristas e até dentro de alguns clubes como assessores, e que não são os seus times de coração, mas desempenham um trabalho inquestionável e irretocável.

Muitas vezes me arrependo por um passado recente, onde eu era muito mais torcedor do que jornalista, mas a arquibancada molda caráter e gera muito aprendizado. Jornalista esportivo que nunca sentou no cimento e não conhece o sentimento do torcedor não serve para ter uma caneta ou um microfone na mão.

Tenho meu time como muitos familiares e amigos sabem, já fui taxado de clubista muitas vezes, mas tento a cada dia aprender maise mais e melhorar nesse aspecto. Já mudei a minha visão e muito do meu comportamento nas redes ‘antissociais’, e entendo como isso pode contribuir com a minha carreira num futuro próximo.

Mas saiba que, meu coração sempre vai bater mais forte por uma camisa, isso é inevitável. Saber separar a paixão do trabalho é a nossa obrigação, e isso vem com o tempo, com experiência. Portanto, segue a peleja, que com respeito e bom senso, sempre o jogo termina em paz.

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