Rogério Micale anunciou à imprensa na tarde desta sexta feira que Neymar Jr será o capitão da seleção olímpica de futebol em busca do ouro inédito. Essa foi a manchete de todos os portais esportivos. Agora, poucas horas depois, já suscitam os primeiros debates sobre a validade e justiça diante da escolha. Os argumentos sobre merecimento são os mais acalorados, mas a questão que fica, é: a decisão sobre qual jogador vestirá a braçadeira é tão relevante assim?

Não, essa discussão merece muito mais consciência e debate, merece mais inteligência, merece atenção ao invés de banalidades. Um capitão, segundo o dicionário, é a pessoa designada a comandar um conjunto em direção a uma conquista, é quem deve ser consultado na tomada de decisão, é quem toma a atitude derradeira, é o último posto. E é justamente assim que nós, brasileiros, não estamos agindo, ainda que as últimas experiências nos induzisse o oposto.

Thiago Silva sentou-se sobre uma bola, aos prantos, enquanto seus companheiros de seleção enfrentavam uma disputa de pênaltis que valia a vaga nas quartas de final de uma Copa do Mundo. Thiago era o capitão. Ao final, todos choravam da mesma forma, como quem segue seu líder, como quem toma como exemplo. Essa história terminou com a maior goleada da história da seleção e com o afastamento do camisa 3 das atividades da amarelinha.

Thiago na Copa do Mundo

Thiago na Copa do Mundo

Exemplos. São eles que se deve buscar qualquer pessoa que queira vencer, seja no âmbito mais apropriado a si. A seleção Portuguesa de futebol conquistou a Eurocopa pela primeira vez em sua história no último mês de Julho. Sob a batuta de Cristiano Ronaldo que, quando foi retirado do campo no duelo final, tomou a frente de sua equipe, liderou mental e espiritualmente cada um de seus companheiros, deu exemplos ao longo da competição, bem como incentivou um colega que ressentia de medo ao bater um pênalti na semi final. Bem como ficou de pé à beira do campo durante 120 minutos, bem como chorou por tentar e não poder regressar ao jogo. Bem como se emocionou ao levantar a taça. O capitão fez seu trabalho.

Buffon, goleiro italiano, um homem à beira da beatificado por serviços prestados no futebol Azzurri, eterno capitão. Rogério Ceni, a voz mais São Paulina que o mundo já viu, o homem que liderou a infantaria no problema, mas que celebrou na glória. Liderou. Fernando Prass, goleiro Palmeirese que tomou a dianteira ao rebater e defender seus homens e sua instituição ao serem questionados e zombados às vésperas de disputarem uma taça. O cara que bateu o pênalti do título. Que teve seu nome eternizado entre 20 milhões de seguidores. Um capitão de coração. Marcos, um santo mundial. Carlos Alberto Torres, aquele que teve a capitania quase que em seu nome, o Capita.

Fernando Prass batendo o pênalti decisivo

Fernando Prass batendo o pênalti decisivo

A polêmica Neymar

Fenômeno. Craque. Dentro de campo, o camisa 11 do Barça é inquestionável. Fora dele, alvo de debate. Desde o início, no Santos, nunca foi capitão de faixa ou mesmo de atitude. Não liderava. Sempre foi conduzido pelos companheiros mais experientes ou com mais postura. Quando Dunga assumiu a seleção brasileira após o vexame do 7 a 1, Neymar foi escolhido como capitão definitivo. A equipe jogava obviamente muito mal, mas o menino não dava sinais de conforto com o posto. Expulsões na Copa América, punições por indisciplina e não comparecimento na Copa do Centenário fizeram com que ele se afastasse das atividades da equipe e tivesse sua condição de líder colocada em xeque.

Agora, para os Jogos Olímpicos, Neymar é a referencia técnica e terá nova chance de capitanear a esquadra na função de capitão, terá de ser decisivo na vitória e competente/cascudo na derrota, terá de assumir toda e qualquer consequência que possa vir, e virá, por essa campanha nos Jogos. O mérito de capacidade é assunto para muito debate, mas seu julgamento não pode ser feito por esse texto, seria de uma pretensão pouco inteligente.

A decisão está tomada, a faixa tem dono e a discussão é muito nobre. O cargo importa e isso pode ser aqui afirmado diante dos casos listados. O brasileiro tem de entender, ainda que na dor, que esses detalhes são fundamentais, merecem atenção, afinal, as grandes histórias nunca tiveram finais adequados quando foram conduzidas ao léu, como quem discute política na ebriedade de uma sexta-feira à noite.

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