Renato Gaúcho, desde os tempos de jogador, é um personagem. Fala o que pensa, não economiza nas brincadeiras e virou símbolo da “boleiragem”. Um cara folclórico e, até certo ponto, importante no futebol, atualmente com pessoas envolvidas com comportamentos padronizados. Até certo ponto, pois Renato atingiu o limite de seu folclore após a conquista da Copa do Brasil pelo Grêmio, na quarta-feira.

Quando Renato Gaúcho chegou ao Imortal, sua contratação foi contestada por muitos, inclusive aqui neste site (releia aqui). Renato era um retrocesso para um clube acostumado com Roger Machado, técnico com conceitos modernos de futebol e que fazia bom trabalho na equipe, no ponto de vista tático. Como o esporte não é ciência exata, os resultados com Roger não estavam vindo e o desempenho em campo foi caindo gradativamente. A demissão foi até natural, dadas as circunstâncias do Grêmio na tabela, mas a contratação de Renato Gaúcho foi uma certa surpresa vindo de uma diretoria que já conhecia os resultados de um treinador com mais estudo de campo e bola. Renato havia passado dois anos sem clube e, nesse tempo, nada fez para se atualizar na profissão.

O folclórico personagem, no entanto, fez o Grêmio jogar bem fora de casa no mata-mata e voltou a fazer um bom trabalho após três anos. Fez da equipe tricolor campeã de um torneio nacional após 15 anos. Inegavelmente, com méritos de um treinador com um estilo completamente diferente de seu antecessor e que, até por esse motivo, acabou dando certo. O erro de Renato, portanto, não foi vangloriar-se do bom trabalho que realmente fez, mas sim a soberba e as declarações pós-título.

Num momento do futebol brasileiro pós 7 a 1, escancarando os inúmeros problemas dentro e fora de campo, temos um técnico campeão da Copa do Brasil que diz a seguinte frase: “Futebol, para quem conhece, é como andar de bicicleta. Não se desaprende. Quem precisa, estuda, vai pra Europa. Quem não precisa, fica tirando férias na praia sem problema algum”. Foi corroborado por Zico, outro ex-jogador que tentou a sorte como técnico. O ídolo do Flamengo ainda disse que “futebol se aprende na prática” e que “nunca vai estudar futebol”.

Fanfarrão? Renato causou polêmica ao dizer que "não precisava estudar futebol"

Fanfarrão? Renato causou polêmica ao dizer que “não precisava estudar futebol”.

Todos esses discursos vão na contramão do que realmente precisamos e do que tanto pedimos para melhorar nosso esporte bretão. E o problema maior não é nem o treinador gremista dizer essas coisas, podendo ser até em tom de deboche ou brincadeira, mas sim nossos dirigentes tomarem essas declarações como verdade absoluta. Há menos de dois meses estávamos todos criticando Vanderlei Luxemburgo por não se atualizar no futebol, não fazer cursos da UEFA, não procurar aprender novos idiomas…e agora Renato Gaúcho está certo por ter vencido um título?

O futebol brasileiro precisa sim se atualizar, modernizar sua estrutura, conhecer novos horizontes e o que dá certo no esporte em outros países. Não para “imitar” tudo que vê, mas sim para podermos usar como efeito de comparação e analisar o que pode dar certo por aqui. Para os treinadores, a ideia é a mesma: estudar taticamente times europeus, analisar o futebol que Guardiola, Ancelotti, Sampaoli, Klopp e outros grandes treinadores ao redor do mundo fazem para, aí sim, ter uma ideia mais ampla do plano de jogo e estruturar sua equipe taticamente, sabendo das variações que sua equipe pode apresentar em campo.

Dentro de campo, nem sempre é feita justiça e nem sempre vence quem fez o melhor trabalho. Não analisemos apenas o resultado, pois fazer isso seria um retrocesso de um país que aprendeu, a duras penas, que apenas se vangloriar do passado não é suficiente para vencer no presente.

Consideremos Renato Gaúcho um grande personagem e um técnico que está dando certo em seu clube atual, apenas. É melhor para o futebol brasileiro.

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