Antonio Conte chegou ao Chelsea com um ótimo retrospecto. O treinador foi bicampeão italiano com a Juventus antes de fazer um excelente trabalho na seleção de seu país, levando uma Itália competitiva, com uma de suas piores gerações recentes, até as quartas de final na Euro do ano passado. Com um padrão tático bem definido nesses dois trabalhos, no 3-5-2 que variava para o 5-3-2 dependendo da ocasião do jogo, Conte consagrou o trio BBC (Barzagli, Bonucci e Chiellini) na Juve e na seleção italiana, além de sempre colocar em campo um time aguerrido e obediente defensivamente, energizado pelo técnico vibrante fora das quatro linhas.

Nos Blues, porém, o início não foi promissor, muito porque Conte não teve três zagueiros de alto nível à sua disposição nos primeiros meses de trabalho. Com Zouma machucado, Terry em baixa e finalizando sua gloriosa carreira e Ivanovic de saída, restaram Cahill e David Luiz para compor a zaga. A necessidade fez o treinador italiano apostar num 4-3-2-1, com Azpilicueta na direita e o recém-chegado Marcos Alonso na esquerda. Não funcionou. A equipe pouco criava ofensivamente e, pior, ainda sofria defensivamente, algo inesperado para quem tem Antonio Conte no banco de reservas. Na 5ª rodada, derrota para o Liverpool em pleno Stamford Bridge. Na 6ª, um chocolate por 3 a 0 sofrido diante do Arsenal, no Emirates, fez o clima no Oeste de Londres mudar e o Chelsea ligar o sinal de alerta.

Derrota para o Arsenal foi doída, mas fez o Chelsea mudar. Foi a partir dela que os blues arrancaram em direção ao sexto título inglês de sua história

Mas a derrota que seria motivo de preocupação, virou o “turning point” da equipe. A partir dela, Conte foi buscar soluções dentro de seu seu elenco e, com muitos méritos, as encontrou. O primeiro grande feito foi transformar o polivalente lateral Azpilicueta, de apenas 1,78m de altura, em zagueiro, para, aí sim, implementar seu consagrado esquema com três defensores. Depois, o italiano conseguiu transformar Marcos Alonso, fazendo o espanhol passar de um mediano meia esquerda na Fiorentina para um fundamental ala esquerdo no Chelsea. Conte também foi o responsável por “ressuscitar” o futebol de Victor Moses, que havia passado as últimas três temporadas emprestado e parecia ter sua saída encaminhada do Chelsea. Sob a batuta do técnico italiano, o nigeriano virou ala direito e, com sua velocidade na recomposição defensiva e na transição ofensiva, também foi peça fundamental na ascensão dos Blues na temporada.

Com essas mudanças, o Chelsea alcançou seu equilíbrio e mostrou, mais uma vez, o motivo de Antonio Conte ser reconhecido pela disciplina tática de seu 3-5-2 (que, nos Blues, passou a ser um 3-4-3). O time passou a ser muito mais competitivo e, a partir da sétima rodada, emendou uma sequência de treze vitórias seguidas, com direito a goleadas sobre Everton e Manchester United, que fez o Chelsea atingir o topo da tabela. Para não sair mais.

Sólido defensivamente e mortal no ataque. Com Cortouis fazendo sua melhor temporada desde que voltou do empréstimo ao Atlético de Madrid. Com Azpilicueta monstruoso pelo chão, Cahill pelo alto e David Luiz pela sobra, numa sintonia defensiva que fez lembrar uma orquestra. Com Marcos Alonso sendo “apenas” o melhor lateral esquerdo do campeonato, tendo participação direta em 9 gols e voltando para formar a linha de 5 na marcação. Com Moses, quem diria, fundamental e decisivo. Com Matic soberano na cabeça de área e dando a fluidez na saída de jogo. Com Kanté, o primeiro bi-campeão com dois clubes diferentes da Premier League, eleito o melhor jogador da Premier League. Com Fábregas, mesmo pouco utilizado, responsável por 11 assistências. Com Pedro finalmente sendo o jogador que o Chelsea esperava. Com Willian rápido e letal nos contra-ataques. Com Hazard voltando a ser aquele de duas temporadas atrás, habilidoso e decisivo. Com Diego Costa raçudo e goleador, sendo o artilheiro que o Chelsea precisava. Com Antonio Conte mágico.

Tão mágico que o jogo do título ainda reservava um truque final. Numa partida truncada contra o West Brom de Tony Pulis, o italiano deu sua cartada com a entrada de Batshuayi – até então contestado e considerado a pior contratação do Chelsea para a temporada 2016/2017. E o gol da vitória, que selou o sexto campeonato inglês dos Blues, o quinto na era Premier League, foi justamente do atacante belga, apenas o segundo dele na competição.

Com 87 pontos, o Chelsea não pode mais ser ultrapassado pelo segundo colocado Tottenham, que tem 77 e apenas 9 pontos em disputa. O título com duas rodadas de antecedência mostra o quão merecida foi essa conquista, com uma equipe que sobrou na Premier League e soube ser campeã. Que teve no banco um gênio, tirando tudo que poderia de seu elenco. A taça do campeonato inglês está em boas mãos. Isso é inCONTEstável.

 

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