Ano 2000. Eurocopa na Bélgica e na Holanda. Em uma de suas participações mais vergonhosas na história de um torneio de futebol, a seleção alemã é eliminada na fase de grupos com um empate e duas derrotas em um grupo com Portugal, Inglaterra e Romênia. A seleção que tinha como estrelas Oliver Kahn, Oliver Bierhoff e Michael Ballack se caracterizava pela força física e pouca técnica com a bola nos pés.

O vexame naquele campeonato europeu de seleções foi o pontapé inicial para uma virada na história do futebol alemão. Era a criação de uma nova identidade. A Confederação Nacional de Futebol da Alemanha, a DFB, passou a investir em Centros de Treinamento públicos onde os jovens pudessem aprender e desenvolver o futebol perto de suas casas, sem vínculo com clubes. O novo futebol alemão seria baseado na força física, mas também na técnica.

Além do desenvolvimento de novos talentos, a DFB também tratou de impor regras de austeridade financeira à Bundesliga, o Campeonato Alemão. Se os clubes tivessem um orçamento aprovado pela federação nacional, poderiam jogar a liga. Se fossem reprovados perderiam pontos e até não entrariam em campo. O gasto com salários não passaria de 50% das receitas do clube. Fazer uma extravagância contratando uma superestrela só se o orçamento permitisse. A liga alemã hoje tem a melhor média de público dos campeonatos do mundo, com cerca de 45 mil pessoas por jogo.

No início desse trabalho de reestruturação, a expectativa era de que os resultados começassem a dar frutos em dez anos e a seleção alemã voltasse a ser uma grande potência futebolística. Previsão mais do que certeira. A partir da década de 2010, nomes jovens como Manuel Neuer, Thomas Muller, Mario Gotze e Mesut Ozil começaram a surgir na seleção e serem protagonistas em grandes clubes da Europa, como Bayern de Munique e Real Madrid. Jogadores técnicos que resgataram o melhor do futebol alemão e levaram a seleção de volta ao protagonismo das grandes competições. Todo o trabalho de reestruturação e desenvolvimento de atletas viria a ser recompensado em 2014, com a conquista da Copa do Mundo no Brasil.

Agora, três anos depois, um novo ciclo se inicia dentro do futebol alemão. Para a Copa das Confederações, o técnico Joachin Low deu férias aos seus jogadores mais experientes e levou para a Rússia uma nova base preparada dentro dos novos conceitos do futebol alemão do século XXI, como Draxler (23 anos), Younes (23), Kimmich (22) e Goretska (21). Jogadores que, mostrando serviço, podem ser convocados e completar o grupo dos experientes na Copa da Rússia em 2018 ou, mais factível, sonhar em fazer parte da seleção no ciclo para o Mundial do Catar, em 2022. Paralelamente à disputa da Copa das Confederações, a Alemanha conquistou o título do Europeu sub-21 após derrotar a Espanha na final por 1 a 0, sendo que vários jogadores desfalcaram a equipe alemã na competição de base em virtude da disputa do torneio na Rússia.

Com organização e planejamento, a Alemanha vai colhendo os frutos que plantou. Tem hoje um dos campeonatos nacionais mais fortes do mundo, clubes organizados e que lutam pelas principais competições europeias, além de uma seleção nacional extremamente competitiva. A Alemanha é o hoje o modelo a ser seguido quando o assunto é gestão e reorganização de uma estrutura para um futebol mais competitivo.

 

Comentários

comentário