Libertadores é sinônimo de brutalidade, de jogo em que a força prevalece sobre a técnica, de gigantes que atropelam os nanicos, de arbitragens caseiras e ambientes hostis. Nada se aproxima mais dos jogos da mais tradicional competição sul americana do que as lutas de gladiadores, em que sangue corria nas arenas e a virilidade era aplaudida de pé pela plateia.

Se você concordou com o parágrafo acima, cheio de clichês e erros de concepção, não se desespere. As comissões técnicas dos clubes brasileiros costumam falhar por acreditar nas mesmas coisas que o caro leitor disse concordar.

 

  • Libertadores não é guerra

Foi-se o tempo do Estudiantes de Bilardo e Pachamé, do Peñarol do Tito Gonçalves, do Independiente do Pavoni, do Nacional do Montero Castillo. Se você não os conhece, saiba que as canelas adversárias não guardam boas lembranças de nenhum desses nomes, que elevaram o sentido de “disputa” a um nível de violência até então desconhecido. Ao dizer que “se necessário darei tapa na cara de uruguaio”, Filipe Melo caiu exatamente no jogo mais esperado pelos times sul americanos. Transformar o jogo em peleja, trocar a bola pela virilidade e a entrega pelos pontapés. Times tecnicamente inferiores emparelham o jogo na vontade. O Atlético Nacional foi campeão em 2016 com um futebol rápido, vistoso e com clamorosas falhas defensivas compensadas por um ataque eficiente. E sem pontapés desnecessários. Quando o Palmeiras conseguiu seu suado empate diante do bravo Atlético Tucumán, todos elogiaram a determinação, e se esqueceram de perceber que foi essa tão clássica confusão de força com brutalidade que custou uma expulsão e um sufoco desnecessário. Mal começo para o time com melhor elenco do Brasil. A Libertadores não é disputa de força, ainda é um jogo em que qualidade precisa ser exaltada e ganha quem faz gols, não faltas.

 

  • Times sem tradição não são adversários fáceis

Evidentemente há uma questão econômica que permeia as disputas continentais. Os investimentos entre alguns times mostram disparidades absurdas. Boa parte das equipes sul americanas sobrevive por meio da venda dos seus melhores jogadores, o que torna alguns times bastante limitados tecnicamente. A questão é que ainda tem 11 jogadores do outro lado que jogam contra os times brasileiros em muitos casos como sendo o jogo da vida, pela repercussão internacional que causaria uma vitória e até mesmo por uma possível transferência para terras pentacampeãs. Como não lembrar dos poderosíssimos Tolima e Guarani eliminando o Corinthians, do Palmeiras empatando contra o River Plate uruguaio e o São Paulo perdendo em pleno Pacaembu contra os valentes bolivianos do The Strongest. Na última semana, o Santos esteve à beira de entrar para essa lista, ao empatar com o Sporting Cristal, tão frágil quanto seu nome indica. Acontece que o Santos entrou no jogo com a certeza de que na hora que se propusesse ganharia o jogo, passeou por terras incas no primeiro tempo e só acordou quando já perdia de 1 a 0.

 

  • Nem todo juiz é mal intencionado

As arbitragens sul americanas são fracas. Juízes despreparados, com erros técnicos e de interpretação que beiram o amadorismo. Alguns casos são grotescos e causam pesadelos em torcedores brasileiros, como foram Ubaldo Aquino e Carlos Amarilla para Palmeiras e Corinthians.  Mas os times brasileiros entram em campo tão preocupados com a arbitragem que chegam a perder o foco no jogo, além de tomar cartões desnecessários que comprometem todo um trabalho. Na eliminação na seminfinal da Libertadores 2016, o São Paulo perdeu a paciência (e o jogo) e acabou com jogadores expulsos e uma dolorida eliminação após começar o jogo vencendo na Colômbia e ameaçando empatar a série que começara desfavorável no Morumbi.

 

  • Estádio cheio não ganha jogo

No clima de euforia criado pelo “espírito da Libertadores”, os torcedores jogam seu campeonato particular. A torcida precisa de mosaicos, bandeiras, sinalizadores (mesmo que proibidos), papeis picados e gritos que façam qualquer estádio ser mais intimidador do que La Bombonera nos seus dias mais gloriosos. Acontece que a euforia e alegria do torcedor viram pressão e vaias caso o resultado não apareça, deixando os jogadores reféns da ansiedade que vem das arquibancadas e que transforma velocidade em pressa e passes em lançamentos sem nexo algum porque a bola queimou no pé. Isso é ainda mais frequente em jogos eliminatórios em que os times precisam do resultado em casa.

O torneio está apenas começando. Será que os times brasileiros tornarão a repetir os mesmos erros que tão caro tem custado recentemente?

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