“Não, não, a minha memória não é boa. Ao contrário, é comparável a alguém que tivesse vivido por hospedarias, sem guardar delas nem caras nem nomes, e somente raras circunstancias. A quem passe a vida na mesma casa de família, com os seus eternos móveis e costumes, pessoas e afeições, é que se lhe grava tudo pela continuidade e repetição.” (Trecho de Dom Casmurro, de Machado de Assis).
Um romance dos mais espetaculares da literatura planetária. Uma história que deixa pra se dê a ela uma interpretação única e singular e que ainda que seja verossímil, nunca será verdadeira. Não há verdades em uma história de amor. Há versões. Há situações. O amor e a ciência não são amigos, eles são intimamente rivais.

Há quem diga que a modernidade seja cruel por ser efêmera. Não guarda memórias, não finca raizes, não cultiva sentimentos. Tudo acaba, tudo é volátil na velocidade de um enjoo. A novidade apaixona e aprisiona. O costume envelhece e descarta. Um estalo e tudo fica como esse parágrafo ficará, sem fim ponto final

Não, isso não é uma ficção que, por melhor que seja Machado, deixa um precipício de realidade para que pisemos. O mundo é mais cruel e exige mais consciência. A arte inspira e abre caminhos para que se releve as reações irracionais do mundo. E só isso. O resto, é com cada um, com cada memória.

O erro pode ser artístico, como Brás Cubas que as deixou póstumas. Aqui, tem de ser em vida, tem que ser em tempo de evitar um final anticlímax, um final triste, como uma segunda feira fria e chuvosa. Tem que ser já, Palmeirense. Não deixe pra amanhã um arrependimento que pode ser solucionado hoje.

Dudu não vive seu auge. Não começou bem. E nem precisaria começar. Bentinho não era um super herói, mas era humano. O torcedor é como Capitu, de olhar dissimulado (e apaixonado), é difícil de lidar. Relevem-se e levem-se menos a sério. Mais arte!

Não coloquem um ponto final efêmero demais. Não jogue vida abaixo um ídolo que a história construiu. Menos, bem menos. Diferente de Dom Casmurro, a nossa história de amor pode acabar, como todas acabam, mas acabar bem. Sabendo que foi bom demais, que foi eterno, enquanto durou.

Por: João Gabriel Falcade

Comentários

comentário