Benjamin foi produto da sétima arte, um história com bases de realidade, mas com a fantasia brilhante do cinema. Personagem icônico que nasce idoso, experiente e resiliente. Com o tempo, rejuvenesce, na medida inversamente desproporcional à lógica temporal. Os anos se vão, a vitalidade física e a virgindade mental vão se aproximando. Como um disco que começa dos créditos e finda-se na saudação de chegada.

Hollywoodianas, as grandes histórias costumam andar de mãos dadas com a fantasia, mas principalmente são a fonte inspiradora para tal prática. La La Land, filme brilhante que concorrerá ao Oscar em tantas categorias que esgotariam as linhas deste texto, mostra como as boas vivências podem muito bem construirem-se com base em roteiros nada lineares, movidas por inspiração. Button inspira consciência. La La Land, explica o impulso afetivo, a emoção à flor das peles, a trilha sonora de um desejo.

Roger Federer parece ter pés de Ryan e mente de Button. Parece ser produto de Hollywood. Um uísque envelhecido em barris de carvalho ao longo de duas décadas, ou até mais. Roger se vê às voltas com as lesões, com as dores do velho jovem Button. Mas descobre-se vital como jovem velho Benjamim. De forma cinematográfica, a peça de Federer parece viver sua turnê de despedida, daquelas de filas enormes, casas abarrotadas, finais aclamados.

Australian Open, uma Broadway, o ex-número 1 do mundo, imaginou-se, jogaria em bom nível, mas logo seria detido por algum jovem cantor de Jazz, de forma impecável e bom terno, mas Roger, um Duke Ellington, de roupa velha e cigarro nas mãos, dava aulas, parecia um garoto que rejuvenesceu-se no tempo, parece ter a gana de um iniciático, o tesão de um garoto na puberdade, mas as habilidades de um sensei. É música!

As quartas de final estão aí, em cartaz no MGM, com luzes e holofotes apontados. O que vai acontecer? Não sabemos, seria exercício de Deus. Vocês sabem qual a próxima nota de um musical? A próxima cena de um filme estreante? Não, né. Mas são gratos por estarem lá e compartilharem do momento. Como Button foi. Como Hollywood se forjou.

Como Federer pode proporcionar. Esse texto é uma ode, de um fã do cinema, da música, e do maior jogador de tênis que o planeta viu jogar. Essa afirmação é comprovada pela minha emoção, apenas. Não importa. Que essa turnê acabe em aplausos e reverências. Se houver um final diferente, a história será ainda bela. Nunca gostamos dos Happy Ends. Perdão, Meca do cinema. Se for, contemplaremos. Aproveitaremos. Vida longa ao Rei.

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