Guernica, 1937. Bombas, destruição, horror. Uma cidade devastada por um regime autoritário que pretendia se estabelecer na Espanha. Francisco Franco derrubara a Frente Popular e tentava por todos os meios impor a sua ditadura totalitária.

Rio de Janeiro, 1937. O país se preparava para as eleições, após sete anos de governo Vargas, quatro deles inconstitucionais. Mas um suposto plano comunista de ataque no dia das eleições acabara com a esperança democrática e iniciara uma violenta repressão que culminara no estabelecimento do Estado Novo.

Francisco Franco, ditador espanhol, era fanático torcedor do Real Madrid. Carregava consigo a acusação de ter favorecido seu clube do coração com intimidações a árbitros e dinheiro público para subsidiar a construção do colossal estádio que carrega o nome do seu amigo pessoal Santiago Bernabeu.

Getúlio Vargas, o pai dos pobres, Doutor Getúlio, o mais emblemático presidente que o Brasil já teve, era gremista de coração. Acredita-se que a construção do Estádio Olímpico, casa original do imortal gaúcho, só foi possível graças à intermediação de João Goulart junto ao presidente Vargas, que liberara créditos para o financiamento.

Amanhã, Franco e Vargas, tão próximos no tempo e nas ideologias, estarão simbolicamente em lados opostos do campo. O espanhol tinha um exército poderoso, que quando precisou contou com cruéis ajudas externas da Alemanha e da Itália. Os soldados merengues são quase imbatíveis. Com Cristiano Ronaldo no comando, o Real Madrid tem nas suas filas o talento de Marcelo, a sutileza de Isco e Modric, a força de Casemiro e ainda a possibilidade de contar com reservas do nível de Garath Bale caso o jogo possa se complicar.  Alinhados num tradicional 4-4-2, os soldados vão todos ao ataque, mas deixam espaços na defesa, especialmente quando atacados em velocidade com bolas nas costas dos laterais.  São fortes, não invencíveis. Não se pode dar um centímetro de espaço porque certamente serão letais, mas a estratégia, ah, a estratégia…

Vargas nunca transformara o Brasil numa potência bélica. Embora com uma participação de destaque na 2ª Guerra Mundial, o ponto alto do governo getulista estava na força interna, na capacidade de comando e controle das massas, na mediação de conflitos e uso da propaganda para se tornar amado por ricos e pobres. Sua maior habilidade estava no discurso, capaz de trazer todos para o seu lado. Palavras que ficaram imortalizadas mesmo após a sua morte. Da mesma forma, o atual comandante gremista tem nas palavras sua grande arma, embora possa se tornar de dois gumes. Renato Gaúcho conseguiu transmitir uma ideia de jogo. Foi capaz de trazer para seu lado e extrair o máximo rendimento de jogadores que rodaram por outras tropas sem maior destaque. Edilson, Cortês, Maicon, Fernandinho, Jael, Barrios. Sem craques, longe disso, renegados e desertores que se transformaram em tijolos de uma equipe sólida. Mas se tijolos precisam de sustentação, a casa gremista tem quatro pilares: Marcelo Grohe, que se consolidou como um grande goleiro. Uma dupla de zaga de altíssimo nível, com Geromel e o argentino Kanemann. E  um atacante veloz, imprevisível e decisivo chamado Luan.

Será o encontro da força e da estratégia. As armas franquistas contra o discurso getulista. Ataques rápidos, dignos de um bombardeio.  Se os brasileiros perderem a sua essência, Abu Dhabi terá seu dia de Guernica, e a destruição será inevitável. Mas a velocidade e inteligência gremista pode perfeitamente fazer com que os gaúchos preservem a sua imortalidade, e não precisem sair da vida para entrar para a história.

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