Por João Gabriel Falcade

Hoje, ao ver um garoto que, como eu fiz um dia, no alto de sua primeira década de vida, estava em prantos, uma mistura de êxtase e dor, com corpo trêmulo, veias saltadas, olhos esbugalhados e rosto cercado por lágrimas de tristeza, de orgulho e de saudade. Lágrimas que escorreram pelo rosto deste que agora tenta colocar tudo em palavras.

Francesco Totti, o último gênio cuja maior habilidade foi a lealdade. A honraria maior que um homem pode ter. Dentro do estádio Olímpico pela última vez, jogou como pode, como a idade lhe permitiu. Sério, compenetrado, parecia estar ensimesmado, vivendo a missão que marcou sua carreira: vencer. Venceu, mais uma vez. Deixou o gramado de rosto fechado, sem qualquer expressão. Seus companheiros de equipe estavam em absoluta êxtase pelo intento. Torcedores já não seguravam a emoção. Eu também não.

Uma cena digna do Coliseu romano, uma despedida papal, uma encenação gregoriana. Alguma coisa que é a máxima expressão de caráter, de dignidade, de fidelidade, de sangue. Uma morte em que se celebra a vida, a história, a glória e o adeus. Um ser humano com aura de herói que deu passos lentos, calejados e sem vontade de terminar, por ao longo do estádio em que foi Deus, com os olhos marejados, as ideias confusas, a vontade de agradecer por viver um momento tão glorioso, mas sem a capacidade de compreender o que fez, o que é, o que vai sempre ser.

Não houve dinheiro de Real Madrid que o fizesse trocar a idolatria de um povo, as expressões gratas e apaixonadas. Totti escreveu sua fábula fantástica e passou mais de duas décadas, criando novos fãs, fãs que envelheceram na paixão e rejuvenesceram seu amor através do fruto desse sentimento tão nobre, as gerações se sucedem dentro deste conto de heroísmo e paixão.

A despedida mais gigantesca que o futebol italiano, ou, ao menos, que esse jornalista presenciou. Sem fogos, sem mosaicos tecnológicos. COM PAIXÃO. Um homem e seu povo vivendo o último encontro, o ídolo que deu tantas alegrias e agora olha incrédulo para tudo o que fez. Parece não entender. A boca treme, o abraço dos filhos foi o refúgio. A última cena é aquela em que os dois lados se olham, chorando, sem que seja preciso dizer qualquer palavra.

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