Quem é mulher sabe como é ruim ter de ir ao banheiro em um estádio de futebol. Condições péssimas, sujos, sem papel higiênico, sem torneiras que funcionem e papel para secar a mão. E por que esse tema hoje? Porque fica muito pior quando você precisa levar seus filhos pequenos para fazerem xixi…

Aconteceu comigo em um distante clássico entre São Paulo e Santos no Morumbi em 2010. Espaço reduzido para a torcida do time da baixada – para o qual torce meu filho mais velho, que estava com 15 anos – e arquibancada lotada. Tudo ia bem até que a Fernanda, então com 2 anos, e o Anderson, com 4 anos, resolveram que precisavam ir ao banheiro. E não dava para esperar o intervalo!

Dá licença dali… dá licença daqui… e fomos tentando descer as arquibancadas. Praticamente impossível de passar! Foi então que um rapaz de uma torcida organizada começou a me ajudar, abrindo caminho. A certa altura, outro jovem sugeriu:

– Por que você não vai lá embaixo, pelo lado da arquibancada e a gente desce eles (sic) para você?

Juro que fiquei um pouco receosa, afinal eles são pequenos e eu não conhecia as pessoas, mas topei, porque estava realmente muito difícil de passar e daqui a pouco um “acidente” ia acontecer… Segurei as crianças, agradeci a gentileza fomos correndo ao banheiro. Depois, ainda tinha a volta, mas essa foi bem mais fácil para eles que, pequenos e ágeis, foram passando por debaixo das pernas das pessoas, enquanto eu também tentava chegar onde estavam meus dois outros filhos.

Cheguei! Ufa… Agora era só assistir à partida e nos divertirmos com a bonita festa dos santistas, que distribuíram bexigas pretas e brancas para a torcida. Em campo, um jogo corrido, daqueles bons, com muitos ataques do Santos e defesas espetaculares do Rogério Ceni. Neymar estava infernal como sempre, rápido, chegando à área adversária com extrema facilidade.

O São Paulo… – Mãe, preciso fazer xixi!

– O quê filha? De novo? Não dá pra segurar???

– Não… – chorominga ela!

“E ainda é só o primeiro tempo”, penso.

Corre de novo, tenta descer a arquibancada, o Anderson diz “eu vou junto”, meu Deus, tudo de novo! Bato no ombro do moço que me ajudou da outra vez e pergunto, com um sorriso amarelo, constrangida…

– Você pode me ajudar de novo?

– Claro! – ele diz, já segurando a Fernanda.

Vai ao banheiro. Volta mais uma vez, eles na frente e eu devagar. Não é fácil ser mãe… rs

Mas devo dizer que nunca deixei de sair com meus quatro filhos porque é difícil. Saio sim, nos divertimos e vamos para todo lado. Nesse dia, o pai deles estava pertinho, mas trabalhando na transmissão do jogo.

Só posso confirmar que se os estádios não têm estrutura para atender as famílias. Imagine se fosse o meu marido a levar a Fernanda no banheiro, como seria? Com a solidariedade que recebi de pessoas que eu nem conhecia, ficou menos difícil a situação e tive a prova de que nem todos que participam de torcida organizada são “desocupados” ou “marginais”.

Todos torciam, cantavam e respeitavam uns aos outros. Quem dera se todos os jogos e todos os torcedores fossem assim, entendendo que futebol é diversão, não guerra; que estádio é lugar sim de família, de paz e alegria.  E o jogo? Terminou 4 a 3 para o São Paulo, que fez o gol no finalzinho, para a tristeza do Márcio, que pela primeira vez via um clássico SanSão no estádio…

Ah, no segundo tempo os pequenos “deram um tempo” e não foram ao banheiro!

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