Em época de eleições uma das coisas mais comuns de se conviver é com o tapinha maroto nas costas, com aquele cumprimento compromissadamente disfarçado, um desejo incrustado e muito terno branco. A malandragem vem sorrateira nas oficialidades e sugere: deve-se manter um alerta corrente, não apenas aquele pezinho atrás, mas uns dois corpos de segurança. E nesse pequena anedota real, o seu time é o objeto e o sujeito é gêmeo: CBF e CONMEBOL. Vivemos um golpe.

 

Adiantado no domingo pela CBF e agora oficializado pela irmã malvada, o comunicado sobre a Copa Libertadores 2017 garante que:

  1. O seis primeiros colocados do Campeonato Brasileiro de 2016 garantem vaga para a competição Sulamericana.
  2. O mesmo acontece para quem faturar a sempre divertida Copa do Brasil.
  3. E, em caso de título canarinho na Copa Sul Americana, o vencedor recebe seu lugarzinho na patota e ainda abre uma oitava –sim, oitava- vaga no nosso torneio de pontos corridos.
  4. Pasmem, em caso de conquista brasileira na próxima Libertadores, o BRzão poderá ter nove lugares na terra prometida.
  5. Levaremos de Março, na chuva que fecha o verão, até Dezembro, reabrindo a estação, para termos uma taça ostentada.
  6. A final, ao menos, seguirá sendo disputada em duas sedes, com o velho e quente método habitual.

 

A Championsleaguezação da Copa Libertadores é uma proposta de propina às vésperas da eleição em que o receptador ameaçou o voto ao outro candidato, mas o atual mandatário não quer maiores ameaças. Prefere encher o tanque do carro, receber aquele cascalho pra derreter uma costela e ainda ganhar uma jaqueta de couro sintético e, de quebra, deixar sua imagem cordial ao poder(oso). Um crime sem suspeitos.

 

O futebol brasileiro vomita suas dores do coração quando precisa viajar aos céus para enfrentar um time de pouca expressão na Copa tão querida, tem chiliques incontroláveis de pelejar no ostentador deserto do Atacama, mas sorri, sentado em sua própria vagabundagem, ao ver que seu mau desempenho pode ser afogado por uma vaga de miséria. Como aquele homem rico que passa pela rua e joga uma moedinha no pobre coitado para evitar que ele “perturbe sua paz” com alguma interpelação misericordiosa.

 

“NÃO, VAI TER GOLPE”, gritaram as Confederações. Repare, leitor, há uma mudança sucinta na frase célebre. Da mesma forma que há uma mudança sucinta na regra. O país mudou, certo? Está vivendo momentos de glória e exaltação. Não. A Libertadores será igual, será ainda pior. Já imagino como estaremos satisfeitos em jogar um torneio assassinado, com requintes, como um Bugio Moqueado, de Monteiro Lobato, aquele em que um homem morto é servido perfumado os ricos, mesmo estando podre. Como um voto comprado, tão podre e nojento quanto.

 

Cada dia mais, a vida, a arte e a política se confundem em um enredo bizarro.

Comentários

comentário