Em meados do século XVIII, a França vivia um período de monarquia absolutista estável com um sistema de produção agrária feita de relações feudais, onde os reis detinham de grandes poderes e domínio. Dentro das quatro linhas, a história do futebol francês se fez paralela à história de seu povo e seu país.

De senhores feudais à grandes reis monarcas passaram e viveram por seus domínios e fizeram da Cidade Luz sua morada, onde travaram verdadeiras batalhas em busca de mais espaço nos gramados do velho continente, conquistando poder, influência e inúmeras vitórias contra outros reinados, porém nunca conseguiram vencer a maior guerra: a conquista do continente.

Perdidos em meio a tanto poder, dinheiro e fama, muitos reis como Carlos Bianchi, Safet Susic, Raí, Pauleta, Nenê, Makélélé, e até os mais lendários reis como Ronaldinho e Ibrahimovic passaram por Paris deixando um legado de conquistas históricas. Com egos de monarcas absolutistas e objetivos em si mesmos, esses grandes desbravadores construíram brilhantes carreiras, mas para si próprios, fazendo com o PSG jamais estivesse na primeira prateleira do esporte bretão, nunca tendo conquistado uma Liga dos Campeões.

Eis que surge um novo Robespierre, um Bon a parte. Seria capaz um jovem revolucionar o futebol parisiense em busca da sua principal e famigerada conquista? Para Neymar, sim. De antagonista a protagonista, o camisa 10 da Seleção Brasileira foi o principal carrasco na fatídica e inesperada eliminação do PSG contra seu antigo clube, em Março de 2017, na dolorosa goleada de 6 a 1, na partida de volta das oitavas de final da Liga dos Campeões.

Neymar é um rei que chegou ao poder deixando Reis antigos para baixo. Colocando-se contra o povo e as raizes nas quais eles se prenderam ao longo da vida. Ele iluminou a cidade luz, mas deu blackout nos costumes clássicos de uma terra conhecida pelo iluminismo.

Mal podíamos esperar que meses depois da queda no maior torneio de clubes do mundo, o “discípulo de messi” deixasse a estabilidade do futebol da Catalunha e fosse partir para novos ares em busca de novos desafios, sendo levado por um caminhão de dinheiro, considerada como a maior transação da história do futebol mundial.

A revolução francesa havia chegado. Chegou chegando. Sendo ele mesmo. Sendo Neymar.Nas primeiras partidas já criou uma enorme discórdia com um dos principais jogadores do clube: Cavani. A briga foi causada por conta de pênaltis e faltas. Quem iria batê-los? Um dos mais antigos e respeitados jogadores do clube ou o astro brasileiro que acabara de chegar querendo ser dono de tudo? Em meio a discussões, o técnico Unai Emery ditou regras e assim a bola foi rolando, de partida em partida.

Gols, assistências e goleadas foram acontecendo no fraco campeonato francês, além dos sucessivos avanços no principal campeonato continental.

A rivalidade entre os sulamericanos era nítida e crescia a cada jogo tanto quantos os números de gols e assistências de Neymar pelo clube.

Como grandes forças políticas sufocam as dúvidas sobre si? Vencendo guerras. Mostrando força, impondo poder à fórceps. E é assim que o Camisa 10 mantém sua rédia.

Tal rivalidade cresceu tanto que semana passada o brasileiro saiu de campo vaiado por seus torcedores mesmo após de ter feito chover na goleada de 8 a 0 contra o pequeno Dijon. Anotando quatro gols e duas assistências, Neymar desfilou no Parc des Princes, e ainda sim, saiu de campo em meio a vaias, tudo por conta de não abrir mão de um pênalti que, se Cavani tivesse batida e convertido, faria com que o Uruguaio se tornasse o maior artilheiro da história do clube, passando o lendário Zlatan Ibrahimovic.

O que faltou? Cordialidade? Fair Play? Em meio a tantas acusações ao jovem craque, a torcida francesa que vaiou o camisa 10 é a mesma que aplaudiu e comemorou fervorosamente a bola na mão de Henry classificando o galo para a Copa de 2010. Uma enorme hipocrisia vestida de uma chata cultura do politicamente correto.

Com interesse de Florentino Pérez, Real Madrid quer Neymar, um dia. E episódios como essa fazem com que a paciência do jogador vá se esgotando, por conta da mimada torcida francesa, que ao invés de apoiar seu maior ídolo potencialmente, faz o inverso e acaba dando um tiro em seus próprios pés.

Alvo cada vez mais de críticas, Neymar está revolucionando o futebol francês, colocando a audiência da Ligue 1 no topo das grades europeias. Com números invejáveis o brasileiro coleciona 24 gols em 23 partidas, sem contar 11 assistências dadas a seus companheiros. Além de projetar o clube num patamar nunca antes imaginado em seus 47 anos de história, fazendo com o sonho da conquista da Liga dos Campeões possa se tornar realidade.

Bom, basta esperarmos para ver se Neymar conseguirá finalmente a tão sonhado Liga dos Campeões para os franceses, assim, conquistando algo nunca realizado antes, tal como os idealizadores da Revolução Francesa buscavam que seus ideais coletivos fossem concretizados. Talvez, seu reinado seja grande demais para o pequeno reino na qual se encontra o futebol francês. Ou, será Neymar como o Rei Luís XVIII, que fugira da França na calada da noite sem dar um pio? Só o tempo dirá, mas até lá teremos muito mais história pra contar…

 

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