O CASO COMPLETO

O colombiano Duvier Riascos ficou mais conhecido no Brasil por perder o pênalti que daria a classificação à equipe mexicana para as quartas-de-final da Libertadores de 2013, frente ao Galo, no Horto. Victor pegou, o Atlético-MG se classificou e o lance ficou marcado como o mais emblemático da conquista do CAM naquela ocasião. Mesmo assim, Riascos fez uma boa competição e chamou a atenção de diversos clubes, por sua força física e capacidade de finalização (embora mostrasse falhas técnicas visíveis). O Cruzeiro – olha que ironia – chegou e comprou o jogador, levando-o para jogar em Belo Horizonte, para esquecer o trauma do tal pênalti perdido. Não deu certo. Riascos jogou mal quando teve oportunidade e não se firmou na equipe mineira. O Vasco, retornando para a primeira divisão o estendeu a mão e quis contar com seus serviços.

O veterano atacante rumou para o Rio de Janeiro por empréstimo e ali ganhava vida nova. O começo foi turbulento, o time não se acertava e a torcida pegava no pé de seu centroavante. O cruzmaltino ficou em situação delicadíssima no campeonato e estava praticamente rebaixado logo ao final do primeiro turno. Jorginho e Nenê chegaram e Riascos foi, aos poucos, reencontrando o caminho do gol e a felicidade de jogar futebol. O Vasco caiu para a Série B, mas de cabeça erguida e com um futuro aparentemente promissor.

Riascos no Vasco em 2016: Gols em clássicos, melhor atacante do Campeonato Carioca e xodó da torcida

Riascos no Vasco em 2016: Gols em clássicos, melhor atacante do Campeonato Carioca e xodó da torcida.    Foto: Reprodução/Facebook Duvier Riascos

E assim foi: 2016 começou ótimo para o atacante. Foi artilheiro do clube no Carioca e marcou gols em clássicos, especialmente na semi-final contra o Flamengo, fazendo-o virar xodó da torcida, em seu melhor momento no futebol brasileiro. O momento foi tão bom que o Cruzeiro, em crise, quis o jogador de volta e não renovou o empréstimo dele com a equipe carioca.

Como empregado, Riascos fez seu dever e voltou a morar em Belo Horizonte. Ficou no Rio de Janeiro o carinho da torcida, a identificação com o Vasco, os gols e a felicidade. Na Raposa, o clima era outro: após um pífio campeonato Mineiro, a equipe ia mal também no Brasileiro e não se acertava em campo. Riascos mal jogava e quando entrava, não desempenhava bem o seu papel, além de não encontrar na torcida cruzeirense, nervosa com a fase do clube, a paciência que tinha no Vasco. A equipe beirava o rebaixamento e após mais uma derrota, o atacante desabafou: “Não estou feliz por tudo isso que está acontecendo. Temos que procurar uma solução, não podem tirar minha felicidade para vir jogar esta merda”, disse à Rádio Itatiaia logo após a saída de campo. O colombiano foi afastado do elenco e xingado, principalmente nas redes sociais, por grande parte da torcida do Cruzeiro.

A OPINIÃO

Riascos nunca foi um primor técnico. Desde o Tijuana mostrava dificuldades, principalmente no controle de bola e no passe. Não dá para entender o motivo de o Cruzeiro ter ido buscar o jogador, que não havia mostrado nada de diferente no futebol mexicano. Mas foi e percebeu o erro quando deixou o colombiano jogar um pouco aqui. Emprestou-o ao Vasco. Lá, ele continuou sendo o mesmo jogador, mas exaltado por sua raça, força física e por gols em jogos importantes, nunca se escondendo nos momentos decisivos. Virou ídolo, foi o melhor atacante do campeonato, campeão, estava com moral…porque não deixar o cara lá? Serviria para valorizar o passe do atacante e vendê-lo em breve, ainda mais jogando em uma competição de menor nível técnico como uma Série B. Os erros da diretoria mineira foram recorrentes com o jogador.

Erros se acumularam no caso Riascos por parte da diretoria do Cruzeiro. Na foto, o diretor de futebol Thiago Scuro. Foto: Reprodução/Facebook Cruzeiro Esporte Clube

Erros se acumularam no caso Riascos por parte da diretoria do Cruzeiro. Na foto, o diretor de futebol Thiago Scuro. Foto: Reprodução/Facebook Cruzeiro Esporte Clube

No ponto de vista de Riascos, ele foi emprestado por um clube que claramente não o queria mais, que o achou “fraco” para jogar lá. Sai para um time em crise, sofre com o descenso e, quando está no auge da sua forma, feliz na cidade do Rio de Janeiro e adaptado ao Vasco, seu contrato de empréstimo acaba. Mesmo com os esforços da diretoria cruzmaltina para renovar, o Cruzeiro exige sua volta. Com a Raposa em ebulição, jogando mal e beirando a zona de rebaixamento, e o colombiano sem muitas chances de atuar – e sendo péssimo quando tinha as oportunidades – Riascos voltou a ser aquele jogador mediano, caído no esquecimento. Era normal de se pensar que, nessa situação, ele estaria incomodado. A declaração dele não é nem um pouco surpreendente, mas ainda assim não é justificável, ainda mais pela margem à interpretação que isso abriu.

Não parece que Riascos xingou a instituição Cruzeiro, mas que chamou de merda a fase do time – e não mentiu, né? A fala deveria atingir mais aos jogadores que lá estão do que a torcida. Eles sim podem ter, e parecem ter tido, a interpretação que foram chamados de “merdas”. Lucas Romero, volante do Cruzeiro que nem em BH está, se manifestou quanto a isso, xingando Riascos e mostrando que tomou as dores. Há informações de que o elenco cruzeirense também não o queria no ônibus da delegação na volta do Rio de Janeiro. E no caso de “tirar a felicidade”, foi a diretoria do clube mineiro ter exigido sua volta, mesmo em seu melhor momento lá no Vasco. Mas ele, ao assinar contrato com o Cruzeiro, já deveria saber desta prerrogativa. O passe do jogador de futebol é assim, e ele não poderia reclamar publicamente da situação, e sim tentar resolvê-la com seu empresário e os diretores do clube. Foi infeliz, mas de cabeça quente e, muito provavelmente, mal interpretado.

Agora, Riascos está “queimado” e não joga mais no Cruzeiro. Fica treinando separado do grupo até a situação ser resolvida e uma volta para o Vasco parece ser a melhor solução de um problema criado por vários erros. E não só de Duvier Riascos.

 

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